quinta-feira, 28 de outubro de 2010

o primeiro...

estremeceu. dentro dela havia vida. mas como fazê-la emergir, como trazê-la cá fora?
instrumentos na mão, como o bisturi de um médico, e a inabilidade de quem é novato. seria processo demorado, doloroso. não se corta a própria carne a sangue frio. mas foi...

[talvez nasça]

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"- É três reais, senhor.
- Três? Por quê?
- Porque é longe.
- E se eu pedisse que você me levasse até a esquina, você me cobraria só 25 centavos?
- Não.
- !!!"

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O mar
(Federico Garcia Lorca)
O mar é
o Lúcifer do azul.
O céu caído
por querer ser a luz.

Pobre mar condenado
  a um eterno movimento,
havendo antes estado
quieto no firmamento!

Mas de tua amargura
te redimiu o amor.
Pariste a Vênus pura,
e ficou-te a fundura
virgem e sem dor.
Mar de espasmos gloriosos!
Tuas tristezas são belas!
Mas hoje ao invés de estrelas,
tens polvos verdosos.

Ah! Agüenta teu sofrer,
formidável Satã.
Cristo velou por ti,
Como também o fez Pã!

A estrela Vênus é
a harmonia do mundo.
Cale o Eclesiastes!
Vênus é o profundo
da alma...

...E o homem miserável
é um anjo caído.
A Terra é o provável
Paraíso Perdido.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

sara era pequena, muito pequena. sara quer dizer princesa. ontem, na casa de nosso pai, o vento levantou o véu. estremecemos. e sara passou, atravessou a cortina de nossa angústia. quis voltar pra casa. porque nosso pai está atrás da cortina, mas temos medo.
a pequena princesa, como o pequeno príncipe, deixou seu corpo, era pesado demais. o menino esqueceu a focinheira e levou seu carneiro. sara não esqueceu nada; foi, assim como veio. e agora sorri para nós, mas não a vemos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Socorro. Não era outro o significado daquele riso. Encontrou-nos como escoras para resistir à infindável monotonia de estar a sós com ela. Imagino-os a sós, o silêncio constrangedor envolvendo a ambos, os monossílabos, olhares vagos.
É mister construir alicerces fortes o suficiente para conter o silêncio. Ele pesa e causa rachaduras.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

nos "táxis" da cidade

clarice muitas vezes escreveu sobre os taxistas que a levavam de cá para lá na grande cidade do Rio de Janeiro. Sobral - lar onde habito desde que desci de Wonderland -  não é tão grande, atravessamos-lhe de moto. o famigerado mototáxi de nossas cercanias cearenses. pois muito bem, tenho sido um cliente assíduo deste tipo alternativo de transporte. e com eles não é diferente do que com os taxistas de clarice.
essa semana um deles me disse que acertou tudo, errou só um. ele era bom, errara apenas um, acertara em todos os outros. mas alguém esqueceu de dizer-lhe que não é um jogo de adivinhação. é o futuro do país. quis abrir-lhe os olhos (estão abertos os meus?), mas não era hora de fel. deixei-o ir, ou melhor levar-me. e calei.